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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Venerável Bede: O Encontro da Misericórdia e da Justiça




O Vbnerável Bede nasceu em 672 e morreu em 735. Ele passou a maior parte da vida no mosteiro em Jarrow-on-Tyne. Sua obra mais notável foi a História Eclesiástica da Nação Inglesa. Suas últimas ho­ras foram gastas terminando a tradução para o vernáculo do Evange­lho de João. Infelizmente, esta obra se perdeu.
Há imensa quantidade de sermões da Idade Média, mas poucos estão disponíveis em inglês. Os pregadores medievais não tinham dúvidas sobre o céu, o inferno, a alma e a obra redentora de Jesus Cristo. Diante da incerteza de muitos de nossos sermões modernos, é reconfortante estudar um sermão da Idade Média.
Como veremos no sermão pregado por Bede, havia muito da arte dos contadores de histórias nos sermões deste antigo pregador.

  
O Encontro da Misericórdia
e da Justiça

"A misericórdia c a verdade se encontraram...”  (Sl 85.10)

HAVIA certo Pai de família, um Rei poderoso, que tinha quatro filhas. Uma se chamava Misericórdia; a segunda, Verdade; a terceira. Justiça; e a quarta, Paz; de quem se diz: "A Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram'1. Ele tinha também certo Filho muito sábio, a quem ninguém se comparava em sabedoria. Tinha igualmente certo criado a quem havia exaltado e enriquecido com grande honra; pois Ele o fizera segundo sua própria semelhança e similitude, e isso sem mérito precedente por parte do criado. Mas o Senhor, como é o costume com tais mestres sábios, desejava prudentemente explorar e conhecer o caráter e a fé do seu criado, se este lhe era ou não digno de confiança. Assim Ele deu-lhe uma ordem fácil, e disse: "Se tu fizeres o que eu te digo, eu te exaltarei a maiores honras; se não, tu perecerás miseravelmente".

O CRIADO ouviu a ordem, e sem demora, a infringiu. Por que preciso dizer mais? Por que preciso retardá-lo com minhas palavras e lágrimas? Este criado orgulhoso, obstinado, altivo e inchado de vaidade  buscou uma desculpa para sua transgressão e colocou toda a culpa no seu Senhor. Pois quando ele disse: "A mulher que me deste para estar comigo, me enganou", ele jogou toda a culpa no seu Criador  O seu Senhor, mais bravo por tal conduta contumaz do que pela transgressão da ordem, chamou quatro dos mais cruéis executores e ordenou que um deles o lançasse na prisão, que outro o estrangulasse  que o terceiro o decapitasse e que o quarto o afligisse com tormentos atrozes. Tão logo se oferecer ocasião, eu lhes darei o nome de cada um dos atormentadores.

ESSES torturadores, estudando como pôr em execução a própria crueldade, levaram o miserável homem e começaram a afligi-lo com toda sorte de castigos. Mas uma das filhas do Rei. por nome Misericórdia  quando ouviu falar sobre este castigo do criado, correu apressadamente à prisão. Olhando para dentro e vendo o homem entregue aos atormentadores, não pôde deixar de ter compaixão dele, porque é sua característica ter misericórdia. Ela rasgou as roupas, bateu palmas e deixou o cabelo cair solto em torno do pescoço. Chorando e gritando, ela correu ao Pai e, ajoelhando-se diante dos seus pés, co­meçou a dizer com voz séria e dolorosa: "Meu Pai amado, não sou eu tua filha Misericórdia? E tu não és chamado misericordioso? Se tu és misericordioso, tenha misericórdia de teu criado. Se tu não tens mise­ricórdia dele, tu não podes ser chamado de misericordioso; e se tu não és misericordioso, tu não podes ter a mim, Misericórdia, como tua filha". 
Enquanto ela argumentava com o Pai, sua irmã, Verdade veio e perguntou por que Misericórdia estava chorando. "Sua irmã, Misericórdia", respondeu o Pai, "deseja que eu tenha piedade daque­le transgressor orgulhoso, cujo castigo designei". 
A Verdade, quando ouviu isto, ficou muito irada e olhou duramente para o Pai. "Não sou eu", disse ela, "tua filha Verdade? Tu não és chamado verdadeiro? Não é verdade que tu estabeleceste uma punição para ele e o ameaçaste com a morte por tormentos? Se tu és verdadeiro, tu seguirás o que é verdadeiro: se tu não o seguires, tu não podes ser verdadeiro; se tu não és verdadeiro, tu não podes ter a mim, Verdade, como tua filha". 

Neste ponto, vocês percebem, "a Misericórdia e a Verdade se encon­traram". 

A terceira irmã, isto é, a Justiça, ouvindo esta discussão, contenda  disputa e pleito, e convocada pelo clamor, começou a inquirir a causa da Verdade. E a Verdade, que só podia falar o que era verda­deiro, disse: "Esta nossa irmã, a Misericórdia, se é que ela deve ser chamada de irmã, visto que não concorda conosco, deseja que nosso Pai tenha piedade daquele transgressor orgulhoso". 
Então a Justiça, com um semblante bravo e meditando num desgosto que ela não tinha esperado, disse ao Pai: "Não sou eu a Justiça, tua filha? Tu não és chamado justo? Se tu és justo, tu exercerás justiça no transgressor; se tu não exerceres essa justiça, tu não podes ser justo; se tu não és justo, tu não podes ter a mim, Justiça, como tua filha". 

ENTÃO aqui estavam, de um lado, a Verdade e a Justiça, e de outro, a Misericórdia. A Paz fugiu para um país muito distante. Pois onde há discussão e contenda, não há paz; e quanto maior a contenda, para mais longe a Paz é afugentada.

ENTÃO, estando uma de suas filhas perdida, e as outras três em calorosa discussão, o Rei achou extremamente difícil encontrar uma maneira de determinar o que deveria fazer, ou para qual lado deveria inclinar-se. Pois se desse ouvidos à Misericórdia, Ele ofenderia a Ver­dade e a Justiça; se desse ouvidos à Verdade e à Justiça, não poderia ter Misericórdia por sua filha; e, não obstante, fazia-se necessário que Ele fosse misericordioso e justo, pacífico e verdadeiro. Havia grande necessidade de um bom conselho. Portanto, o Pai chamou seu Filho sábio, e o consultou sobre o assunto. Disse o Filho: "Dai-me, meu Pai, este presente assunto para conduzir, e eu castigarei o transgressor para ti, e trarei em paz para ti as tuas quatro filhas". "Estas são gran­des promessas", respondeu o Pai, "se a ação concordar com a pala­vra. Se tu podes fazer o que dizes, eu agirei como tu me exortares". Tendo recebido o mandato real, o Filho levou consigo sua irmã Misericórdia. "Pulando montanhas, ignorando colinas", eles chega­ram à prisão, e "olhando pelas janelas, olhando pelas grades", viu o criado encarcerado, barrado da vida presente, devorado pela aflição, e "desde a planta do pé até ao alto da cabeça não havia nele nada são". Fie o viu no poder da morte, porque por ele a morte entrou no mundo. Ele o viu devorado, porque, quando um homem está morto, ele é comido pelos vermes. E porque agora tenho a oportunidade de lhes falar, vocês saberão os nomes dos quatro atormentadores. O primeiro, que o colocou na prisão, é a Prisão da vida presente, da qual se diz: "Ai de mim, que sou constrangido a morar em Meseque". O segundo, que o atormentou, é a Miséria do mundo, que nos ataca com todos os tipos de dor c miséria. O terceiro, que o estava matando  é a Morte, que destrói e a tudo mata; o quarto, que o estava devorando, é o Verme... Então, o Filho, vendo o seu criado entregue a estes quatro atormentadores, não pôde senão ter Misericórdia dele, porque a Misericórdia era sua companheira, e irrompendo na prisão da morte, "conquistou a morte, amarrou o homem forte, tomou os seus bens" e distribuiu os espólios. E, "subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens". Ele trouxe de volta o criado ao seu país, o coroou com duplicada honra e o vestiu com uma roupa de imortalidade. Ao ver tal coisa, Misericórdia não teve mais base de reclamação. 

A Verdade não achou causa de descontentamento, porque seu Pai foi achado verdadeiro. O criado havia pago todas as penas. A Justiça, de igual modo, não reclamou, porque fora executada a justiça no transgressor; e, assim, "aquele que tinha-se perdido, foi achado". A Paz, então, quando viu que suas irmãs estavam em concórdia, voltou e se uniu a elas. E agora, vejam que "a Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram". Assim, pelo Mediador dos homens, o homem foi purificado e reconciliado  e a centésima ovelha foi trazida de volta ao aprisco de Deus. A este aprisco Jesus nos traz, a quem seja a honra e o poder para sempre. Amém.

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