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Por Renato César
Lembro-me de certa ocasião em que preguei na congregação de um pastor amigo meu. Falei cerca de meia hora. Após o culto, um visitante, acho que parente de algum membro da igreja, aproximou-se de mim e elogiou o sermão. Mas fez uma ressalva: Se eu fosse mais animado no púlpito, poderia me tornar um verdadeiro “showman”.
A onda de pastores “showman” iniciada algumas décadas atrás não é privilégio das igrejas neopentecostais. Pelo que se vê, até mesmo as ovelhas de outros apriscos, incluindo denominações históricas, tem sido fortemente influenciadas pela moda dos homens de terno falastrões e bem humorados em púlpito.
Não há como negar. Ouvir um pregador com oratória apurada, desenvolto e metido a apresentador televisivo cativa os corações carentes e atrai a atenção de curiosos. Hoje em dia, pastores enchem igrejas. Oxalá fosse o Evangelho!
A própria palavra “pastor” perdeu seu sentido original. Outrora, era aquele que apascentava as ovelhas, que cuidava das almas abatidas. Paulo, em carta a Timóteo, elencou algumas características necessárias àquele que almeja o episcopado. Para o apóstolo, o epíscopo, equivalente a pastor nos dias atuais, deve ser irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento, não neófito, além de ter bom testemunho dos que estão de fora (1Tm 3.2-7) .
Você leu com atenção os requisitos estabelecidos pela Bíblia? Agora, lhe pergunto: Há algum que faça referência a boa oratória ou estabeleça desenvoltura como exigência para o Sagrado Ministério? Não, não há! O próprio Jesus, ao que tudo indica, não foi um orador espetacular. Duvido que alguém o imagine dando pulinhos ou fazendo teatro enquanto proferia o sermão do monte ou qualquer de seus ensinamentos.
Mas, ao contrário do que a Bíblia estabelece, muitas ovelhas de hoje avaliam seus pastores por sua capacidade de prender-lhes a atenção, pela eloquência em sua argumentação e desenvoltura no púlpito. O verdadeiro “showman”.
Ainda me recordo da resposta que dei ao visitante que naquela noite quase encheu meu coração de vaidade, tentando convencer-me a tornar a mensagem do evangelho mais atraente e aceitável. Respondi-lhe mais ou menos assim: o importante é que a mensagem seja pregada; quem deve aparecer é o Evangelho, não eu. Não vejo mérito nenhum em ter respondido dessa forma, mas teria pecado contra o Senhor se houvesse concordado com aquela proposta.
Não estou afirmando que é falta de espiritualidade ou pecado fazer uso de técnicas de oratória. O pregador deve procurar aprimorar-se ao máximo, como deve ser em qualquer profissão. Mas, biblicamente falando, não será sua retórica que o credenciará a apascentar as ovelhas do Senhor.
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