Devido a uma influência secularista,
liberal e reducionista na missiologia das últimas décadas, houve uma
humanização de conceitos que necessitam de revisão bíblica. Talvez o
principal seja o próprio Evangelho. Não é incomum lermos que “o
Evangelho está sendo atacado no Egito” ou que “o Evangelho está entrando
nos lugares distantes da Amazônia”. O que se quer dizer é que a Igreja
está sendo atacada e entrando na Amazônia, manifestando que, em nossos
dias, passamos a crer que a Igreja é o Evangelho. Essa equivocada
compreensão cristã que iguala o Evangelho à Igreja – a nós mesmos – é
ampla e popular, mas tem suas raízes em distorções bíblicas e teológicas
que podem nos levar a caminhos erráticos na vida e prática cristã.
Paulo escreve aos Romanos no capítulo 1
sobre o “Evangelho de Deus” (v.1) que Deus havia prometido “pelos seus
profetas nas Sagradas Escrituras” (v.2), o qual, quanto ao conteúdo, é
“acerca do Seu Filho” (v.3), que é “declarado Filho de Deus em poder…
Jesus Cristo, nosso Senhor” (v.4). Portanto fica claro: Jesus é o
Evangelho.
Assim, se nos envergonharmos do
Evangelho, estamos nos envergonhando de Jesus. Se deixarmos de pregar o
Evangelho, deixamos de pregar Jesus. Se não crermos no Evangelho, não
cremos em Jesus. Se passarmos a questionar o Evangelho, seus efeitos
perante outras culturas e sua relevância hoje, nós não estamos
questionando uma doutrina, um movimento ou a Igreja, estamos
questionando Jesus.
O que Paulo expressa nesse primeiro
capítulo é que, apesar do pecado, do diabo, da carne e do mundo, não
estamos perdidos no universo. Há um plano de redenção e Ele se chama
Jesus. O poder de Deus se convergiu nEle e Ele está entre nós.
Quando compreendemos mal o Evangelho, e o
igualamos à Igreja, corremos o risco de proclamarmos denominações,
igrejas locais, logomarcas e pregadores, pensando que com isso estamos
evangelizando. Não há verdadeira evangelização sem a apresentação de
Jesus Cristo, Sua vida, morte, ressurreição e paixão por nos salvar.
Um dos textos que mais sintética e
profundamente expõe o Evangelho foi escrito por Paulo quando afirmou:
“Pois não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.
(Rm 1.16).
Em primeiro lugar, esta
afirmação deixa bem claro que o Evangelho jamais será derrotado, pois o
Evangelho é Cristo. Sofrerá oposição e seus pregadores serão
perseguidos. Será questionado e deixarão de crer nEle. Porém, nunca será
vencido, pois o Evangelho vivo, que é Cristo, é o poder de Deus.
Em segundo lugar, o
Evangelho não é o plano da Igreja para a salvação do mundo, mas o plano
de Deus para a salvação da Igreja. O que valida a Igreja é o Evangelho,
não o contrário. Se a Igreja deixa de seguir o Evangelho, de seguir a
Cristo, deixa de ser Igreja, ou Igreja de Cristo.
Em terceiro lugar, o
Evangelho não deve ser apenas compreendido e vivido. Ele se manifestou
entre nós para ser pregado pelo povo de Deus. Paulo usa essa expressão
diversas vezes. Aos Romanos, ele diz que se esforça para pregar o
Evangelho (Rm 15.20). Aos Coríntios, ele diz que não foi chamado para
batizar, mas para pregar o Evangelho (1 Co 1.17). Diz também que pregar o
Evangelho é sua obrigação (1 Co 9.16).
Devemos proclamar o Evangelho – lançar as
sementes – a tempo e fora de tempo. Provérbios 11 nos encoraja a lançar
todas as nossas sementes, “… pela manhã, e ainda à tarde não repouses a
sua mão”. Essa expressão de intensidade e constância nos ensina que
devemos trabalhar logo cedinho – quando animados e dispostos – e quando a
noite se aproximar, o cansaço e as limitações chegarem, ainda assim não
deixar de semear. Fala-nos sobre a perseverança na caminhada e no
serviço. É preciso obedecer mesmo quando o sol se põe.
Jim Elliot, missionário entre os Auca do
Equador na década de 50, afirmou que “ao chegar o dia da nossa morte,
nada mais devemos ter a fazer, a não ser morrer”. Observemos nossa vida e
lancemos a semente, cumprindo a missão.
Não importa mais o que façamos em nossas
iniciativas missionárias, é preciso pregar o Evangelho. A pregação
abundante do Evangelho, portanto, não é apenas o cumprimento de uma
ordem ou uma estratégia missionária, mas o reconhecimento do poder de
Deus.
Somos lembrados por Paulo a jamais nos
envergonharmos do Evangelho que um dia no abraçou, pois não é uma ideia
ou um movimento, mas uma Pessoa, o Evangelho é Jesus.
Fonte: Teologando
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