Há algum tempo visitei o Wartburg, o castelo onde
Lutero traduziu a Bíblia. Há muitas coisas interessantes para ver ali – além da
sala onde Lutero trabalhou. Por exemplo, nas paredes há retratos de todo tipo.
Chama a atenção que as mulheres se apresentam em seus melhores trajes. E os
homens usam vestimentas ricamente enfeitadas com medalhas, ou então magníficos
uniformes ou armaduras. As pessoas faziam-se retratar em toda a sua dignidade,
principesca ou real.
Diz o ditado popular: “O hábito faz o monge”. De
fato, muitas vezes as roupas dizem algo a respeito do caráter de uma pessoa,
suas idiossincrasias ou preferências. É bem verdade que há pessoas ricas e
influentes que se vestem de forma simples, mesmo que os tecidos que usam sejam
muito caros. Assim, uma simples olhada de relance realmente pode dar uma
impressão errada.
As estrelas e celebridades da nossa época
normalmente não poupam esforços nem dinheiro a fim de se apresentarem com as
melhores e mais chamativas roupas, apenas para continuarem in e para que se fale delas.
Como o Senhor Jesus, o Rei dos reis e Senhor do
senhores, estava vestido no dia de Sua morte (crucificação)? Ele usou seis
vestimentas diferentes. Em minha opinião, Deus quer nos transmitir uma mensagem
por meio delas. Vamos analisá-las uma a uma.
A roupa
resplandecente
Quando Pôncio Pilatos descobriu que Jesus era da
Galiléia, e que Herodes, cujo domínio incluía a Galiléia, estava em Jerusalém
naquele momento, ele enviou o Senhor até Herodes (Lc 23.6-7). Fazia tempo que
este desejava ver um sinal milagroso realizado por Jesus. Mas como o Senhor não
respondeu às suas perguntas (v.9) nem realizou milagres, o aparente interesse
por Jesus imediatamente se transformou em zombaria e gozação: “E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o, e, escarnecendo dele,
vestiu-o de umaroupa resplandecente, e tornou a enviá-lo a Pilatos” (v.11, RC). Outras traduções chamam esta roupa de “manto esplêndido”, “manto branco”
ou “manto real”.
É óbvio que Herodes queria usar isso para expor a
reivindicação da realeza de Jesus ao deboche público. Pois, pouco antes Jesus
tinha respondido à pergunta de Pilatos: “És tu o rei dos
judeus?” com “Tu o dizes” (v.3). Todo o Sinédrio reunido naquele lugar tinha escutado essas palavras, e
os mesmos homens agora acusavam Jesus diante de Herodes, com certeza também
pela Sua reivindicação de ser o Rei dos judeus (cf. Lc 23.3,10).
Com esta roupa resplandecente que Herodes tinha
mandado que vestissem em Jesus, ele O tinha exposto à zombaria das pessoas.
Elas zombavam dEle por causa daquilo que Jesus realmente era: o Rei dos judeus;
a verdade absoluta e comprovada a respeito de Jesus foi debochada.
Algo muito parecido acontece hoje: inúmeras
publicações sobre Jesus arrastam a verdade a respeito de Sua Pessoa na lama.
Nenhuma outra religião é tão vilipendiada quanto o verdadeiro cristianismo,
pois a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo que ela prega é a verdade. Por
trás disso está o pai da mentira, o diabo (Jo 8.44), que combate essa verdade
com todos os meios de que dispõe.
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Inúmeras publicações sobre
Jesus arrastam a verdade a respeito de Sua Pessoa na lama. Nenhuma outra
religião é tão vilipendiada quanto o verdadeiro cristianismo.
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A roupa resplandecente colocada sobre Jesus também
significa que o Senhor tomou sobre si todos os pecados, mesmo aqueles que o ser
humano tanto gosta de usar, mas que não o fazem feliz: roupas maravilhosas,
esplêndidas, e jóias preciosas. Os homens gostam de se apresentar com elas,
mas, na maioria das vezes, por baixo só estão escondidos egoísmo, orgulho e uma
ambição ilimitada.
A “roupa resplandecente” dos homens tenciona
esconder a sua miséria e natureza pecaminosa, o “manto branco” precisa ocultar
a hipocrisia, o “manto esplêndido” tenta neutralizar o mau cheiro da debilidade
humana e o “manto real” procura testemunhar imortalidade, mesmo que o ser
humano seja totalmente mortal.
Jesus vestiu, tomou sobre si e carregou tudo isso.
Agora Ele transforma qualquer pessoa que crê nEle em “rei e sacerdote” (cf. Ap
1.5-6).
O manto escarlate
Depois que Pilatos tinha mandado açoitar Jesus (Mt
27.26), o texto continua: “Logo a seguir, os
soldados do governador, levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda
a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate” (vv. 27-28). Outras traduções falam em “manto de púrpura”, “capa de soldado púrpura”
ou “manto vermelho”. Tratava-se de uma capa vermelha do tipo usado por
soldados. Foi uma capa dessas que colocaram nos ombros de Jesus.
Sem saber, em seu deboche e zombaria os soldados
fizeram algo cujo significado mais profundo indica o motivo do sacrifício de
Jesus. Afinal, o “manto vermelho” ou “escarlate” nos lembra todo aquele sangue
derramado sobre a terra, as incontáveis guerras e as muitas vítimas inocentes.
Ele proclama que o homem não se entende com seu próximo, que há apenas brigas
entre eles. Ele nos lembra assaltos, violência, poder desmedido e injustiça,
assassinatos e homicídios e o espírito assassino inventivo da humanidade. Ele
nos lembra as grandes guerras (entre os povos) e as pequenas guerras (nas
famílias, entre vizinhos, etc.).
O “manto escarlate” do soldado representa ódio e
vingança, retaliação, busca por poder e exercício da tirania. Mas ele também
expressa que o homem não vale nada para os outros homens. Esse “manto vermelho
do soldado” deveria estar sempre diante dos nossos olhos.
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O “manto vermelho” proclama
que o homem não se entende com seu próximo, que há apenas brigas entre eles.
Ele nos lembra assaltos, violência, poder desmedido e injustiça, assassinatos
e homicídios e o espírito assassino inventivo da humanidade.
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Jesus quis tomar nossa culpa sobre si de forma
voluntária, e fez isso de forma conseqüente. Essa era a Sua missão, a Sua
tarefa. Jesus tomou sobre si a culpa de todas as discórdias do relacionamento
humano, todo ódio e todo assassinato: esta é a verdade ilustrada pelo “manto
vermelho do soldado”, que Ele permitiu que fosse colocado em Seus ombros.
Suas próprias
roupas
“E, depois de o haverem escarnecido,
tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado” (Mt 27.31, ACF).
As roupas de Jesus eram feitas por mãos de homem,
para serem usadas por homens; eram de material terreno. Jesus usou essas roupas
durante a Sua vida.
Sendo Deus, Ele vestiu essa “roupa” para se tornar
completamente homem. Ele praticamente “vestiu nossa pele” e assumiu humanidade
completa.
E como Jesus usou essas roupas feitas por homens,
elas também realizaram milagres. Uma mulher tocou a bainha da Sua roupa e
imediatamente ficou curada (Mc 5.25ss.).
As roupas de Jesus indicam que Ele se tornou homem,
e nos ensinam que Ele quer tornar a nossa humanidade completa. E quando nós O
convidamos a preencher nossa humanidade, Cristo, a esperança da glória (Cl
1.27), vive em nós.
Suas roupas se transformaram em símbolo da
redenção, pois quatro soldados as tomaram e dividiram entre si (Jo 19.23). As
roupas de um condenado à cruz eram despojos dos carrascos. Assim, as roupas de
Jesus, crucificado vicariamente pela nossa culpa, transformaram-se em “vestes
de salvação” para nós (Is 61.10).
Tiraram dele a “capa” e “vestiram-lhe as
suas vestes”. Jesus não era nem como Herodes (manto
esplêndido) nem como os soldados (capa). Ele os usou e depois foi despido
delas. Mas Ele continuou sendo verdadeiro homem.
A túnica
“Os soldados, pois, quando
crucificaram Jesus, tomaram-lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada
soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo. Disseram,
pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a
quem caberá – para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes
e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os soldados” (Jo
19.23-24).
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A túnica de Jesus não tinha
costuras. O sacerdócio de Jesus é indivisível, não há nenhuma costura que
possa ser desfeita, ele é uma unidade.
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O texto diz expressamente que essa túnica tinha
sido tecida sem usar qualquer costura. As roupas do sumo sacerdote também eram
feitas dessa forma:“Farás também a sobrepeliz da estola sacerdotal toda de
estofo azul. No meio dela, haverá uma abertura para a cabeça; será debruada
essa abertura, como a abertura de uma saia de malha, para que não se rompa” (Êx
28.31-32). A diferença estava no fato de que o
sumo sacerdote usava essa peça por cima de todas as outras, e Jesus a usava por
baixo. Isso também tem um significado mais profundo: Jesus Cristo é o
verdadeiro Sumo Sacerdote, ainda ocultado. Ele veio ao mundo como Filho de Deus
e revelou-se como Messias de Israel em Seus atos. Mas era preciso que também
ficasse claro que Ele era mais que isso: o eterno Sumo Sacerdote de Seu povo.
No fim de Sua vida ficou claro qual era o Seu destino inicial.
O povo celebrou-O como Filho de Davi, louvou-O como
Messias e grande Profeta. Contavam com a vitória sobre os romanos e o
estabelecimento de um reino messiânico. Mas eles não perceberam que primeiro
Jesus teria de morrer pelos pecados dos homens, como o Cordeiro de Deus.
Podemos chegar a Ele, o Senhor crucificado e ressuscitado, com toda a nossa
culpa. Ele intercede por nós, é nosso Advogado diante do Pai celeste: Seu
sacrifício vale perante Deus. Jesus é tudo de que nós precisamos!
A túnica de Jesus não tinha costuras. O sacerdócio
de Jesus é indivisível, não há nenhuma costura que possa ser desfeita, ele é
uma unidade. Seu sacerdócio não pode ser dividido com Maria, outra assim
chamada mediadora, nem com os sacerdotes eclesiásticos, nem com o papa nem com
nenhuma outra religião. Somente Ele é o eterno e verdadeiro Sumo Sacerdote, o
único Mediador entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2.5-6).
O pano
Como Jesus fora despido de Suas roupas e de Sua
túnica, Ele ficou dependurado na cruz coberto apenas por um pano. Estava
praticamente nu. O Salmo 22.17-18 O descreve desta forma: “Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em
mim. Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes”. Hermann Menge traduziu a última parte do versículo 17 desta forma: “...mas eles olham para mim e se deleitam com a visão”.
A nudez retrata pecado e vergonha. Ela personifica o
pecado original. Desde Adão todos nós nascemos em pecado, por isso chegamos ao
mundo nus. Em Gênesis 3.7 lemos: “Abriram-se, então,
os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e
fizeram cintas para si”. Adão disse a Deus: “Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”
(v.10). E Deus respondeu: “Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei
que não comesses?” (v.11).
O primeiro Adão pegou o fruto proibido da árvore, e
tornou-se o pecador cuja iniqüidade pesa sobre todos os homens.
O último Adão foi pendurado num madeiro e “feito
pecado” (2 Co 5.21). Jesus tomou sobre si a culpa original do pecado a fim de
eliminar a culpa do homem. Quem crê em Jesus não tem somente o perdão de seus
pecados, mas também do pecado original, no qual todos nós nascemos.
Os lençóis
“Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o
envolveram em lençóis (de linho) com os aromas, como
é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro” (Jo 19.40).
O linho era usado nas vestes sacerdotais (Lv 6.10).
Também os tapetes, toalhas e cortinas do tabernáculo eram feitos de linho (Êx
26.1,31,36; cf. também 1 Cr 15.27).
Era costume que os judeus mortos fossem sepultados
enrolados em lençóis de linho. Jesus foi “sepultado” como um verdadeiro judeu.
Mais tarde, quando Jesus ressuscitou, o texto diz: “Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também
viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não
estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte” (Jo 20.6-7).
Em minha opinião, os lençóis nos lembram as obras
da lei, o sacerdócio do Antigo Testamento, o tabernáculo, as leis e
prescrições, as obras e os esforços dos judeus que seguiam a lei.
Jesus foi colocado no túmulo envolto em linho, mas
na Sua ressurreição Ele deixou os lençóis para trás. Ele cumpriu a lei de forma
completa. Ele é o cumprimento da lei (Mt 5.17). Nele qualquer pessoa que Lhe
pertença é tornada completa.
Aplicação pessoal
Jesus usou o manto esplêndido de Herodes, o orgulho
e a soberba da humanidade sem Deus. O Senhor permitiu que Lhe colocassem o
manto vermelho dos soldados, o ódio abismal e a brutalidade do ser humano.
Jesus usou Suas próprias roupas: Ele se tornou completamente homem. Ele usou
uma túnica sem costuras: Ele é o verdadeiro Sumo Sacerdote. Na cruz Ele foi
coberto somente com um pano. Jesus levou não somente os pecados, mas o pecado
original. Na morte o Senhor usou os lençóis de linho, depois despidos na ressurreição.
Jesus é o cumprimento da lei.
Agora toda pessoa renascida é chamada a despir o
velho homem e vestir o novo homem em Cristo: “...[despojai-vos] do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e [renovai-vos] no espírito do vosso
entendimento, e [revesti-vos] do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade” (Ef 4.22-24). “...revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo” (Rm 13.14). (Norbert Lieth - http://www.chamada.com.br)
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