Por Fabio Campos
"porque ainda sois
Uma breve nota precisa
ser dita antes de discorrer o assunto proposta no título: “Salvo!, mas
carnal”! Não estou tratando de incrédulos, mas de irmãos e irmãs salvos
em Jesus Cristo e que sem dúvida alguma herdarão o reino dos céus. Por
isso que os refiro como “salvos!, contudo, carnais.
Posto isto, entendo que a
maturidade cristã é construída paulatinamente. Ser maduro é ser
“experimentado” nas coisas de Deus. Muitos do que são “maduros” na fé
também precisa examinar-se para identificar seus pontos fracos e poder
trata-los pela graça de Cristo para chegar a “estatura do varão
perfeito” (Ef 4.13). Temos nossas áreas de imaturidade! Todavia, é
importante salientar que tempo de igreja e de conversão não pode ser o
crivo para analisar tal estágio. Muitos crentes com mais de quarenta
anos de vida cristã ainda são imaturos na fé. Conhecem as Escrituras,
mas não conseguem pratica-las no convívio social e na igreja local. São
como crianças que decoram versículos, mas não compreende o significado
para poder aplica-lo na sua vida cristã.
Dentro das comunidades
cristãs, grande parte dos irmãos, é imatura. É aquilo que Paulo diz:
“carnais, meninos em Cristo” (1 Co 3.1). Vejamos então a luz das
Escrituras à postura de um “crente carnal”.
1. Invejoso: Paulo diz
que os meninos na fé são invejosos (1 Co 3.3). Até choram com os que
choram, mas não consegue se alegrar com os que se alegram. Quanta
disputa por cargo tem dividido nossas igrejas. A impressão que tenho é
que trata de pessoas frustradas na vida secular - que pelo dom
dispensado por Deus, enxergam uma oportunidade no evangelho de ser
apreciado pelas pessoas.
2. Contenciosos: Esse
tipo de irmão gosta de jogar uns contra os outros. É sectário! Faz seu
próprio partido e pelo litígio dividem a igreja entre “direita” e
“esquerda”. Arrazoe no seu coração e peça discernimento a Deus quando
você estiver próximo deles. A Bíblia nos ensina para não “aplicarmos o
nosso coração a todas as palavras que se diz, porque logo mais
presenciará tal pessoa falando mal de você” (Ec 7.21).
O capítulo 3 [13-18] da
Carta de Tiago trata justamente deste tipo de comportamento. O qual ele
denomina como “animal e demoníaca”. É importante frisar que Tiago alerta
aqueles que diziam ser sábios e inteligentes (v.13). Isto nos mostra
que o nosso conhecimento teológico e bíblico não nos faz maduros e
cristãos espirituais. Ajuda! Mas o comportamento, diante disso, através
de um espírito manso e tranquilo -, é o que mais vale perante Deus (1
Pe 3.4). Muitos têm uma aparente maturidade – uma excelente teologia –
são persuasivos e habilidosos nas articulações dos argumentos – mas
diante de Deus, são carnais.
Tiago convoca um debate
com estes irmãos para provar quem é o mais sábio. Porém, sua refutação
não é teológica nem apologética, mas comportamental: “Quem é sábio e tem
entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento,
mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria” (Tg
3.13 NVI).
Partindo deste
pressuposto Tiago começa expor sua refutação diante daqueles que se
entendia por “sábio” e “inteligente”. Ele começa a denunciar os “frutos
da árvore”, pois assim disse o Senhor: “pelos frutos os conhecereis”.
Estes “sábios” e “entendidos” abrigavam no seu coração “inveja e
amargurada”. Tinham sede por “discussões tolas”. Este é o ponto mais
forte do debate - quando Tiago diz: este tipo de sabedoria é “terrena”,
“animal” e “demoníaca” (Tg 3.15).
O grande teólogo
norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, disse: “Antes de ser
erudito o ministro [posso acrescentar aqui os irmãos] deve ser devotado a
Deus, [e o] mas grave erro é colocar estas coisas em contradição” ¹.
Paulo exortar aqueles que estão mais maduros na fé a não “agradar a si
mesmos”, antes, suportar as “debilidades dos fracos” (Rm 15.1). Repare
que não se trata de uma algo fácil. O próprio apóstolo pede uma força
tarefa: “não agradar a si próprio”. Este tipo de atitude só pode ser
praticado por alguém que realmente possui um coração devotado a Deus.
O maior erudito que o
cristianismo já teve – Paulo de Tarso -, diz que “o conhecimento traz
orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não
conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus”
(1 Co 8. 1-3 NVI). Paulo diz neste trecho que “o saber nos faz
conhecidos aos homens” e o “amor nos faz conhecidos de Deus”. Fica em
nosso “colo” a decisão de quem queremos ser conhecidos.
Tiago continua a expor
sua refutação confrontando à “sabedoria” daqueles que diziam ser sábios.
Desafiando estes irmãos, Tiago diz: “se você é sábio, então mostre isso
em mansidão mediante um proceder digno através das suas obras” (v. 13).
“Segundo a Bíblia de estudo Palavras Chaves”, a “mansidão” que Tiago
diz, trata do “resultado da decisão de um homem forte de controlar as
suas reações, em submissão a Deus” (p. 2368). Você tem argumento –
conhece do assunto – mas assim como o homem forte que sabe controlar
suas reações, controla seus impulsos pecaminosos falando o que é certo
da forma certa, mesmo que contrariado - tudo por amor a Deus.
“A Bíblia de estudo
Palavras Chaves” diz que a “sabedoria” que Tiago usa em seu argumento
“representa a sabedoria divina, [que é] a capacidade de regular o
relacionamento da pessoa com Deus” (p. 2398). Trata do temor ao Senhor
que é o princípio de toda sabedoria. É o ato de você olhar para o
“débil” na fé com temor e tremor por ser ele alguém salvo e remido pelo
Senhor Jesus Cristo (Rm 14.1). Esta sabedoria não compara a si mesmo com
os homens da sua volta, mas olha para a luz e entende que a“Palavra de
Deus esclarece e dá entendimento ao simples” (Sl 130.130). Como disse o
apologista C. S. Lewis: “Quem está no processo de se aperfeiçoar, cada
vez mais compreende com maior clareza o mal que existe em si”. Ele [o
maduro na fé] percebe que nada é, quando entende que somente em Cristo
há “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).
Dentro da ortodoxia
cristã o termo “verdade” é muito defendido. De fato tem que ser! Só que
Tiago diz que se procedermos com a “sabedoria terrena”, estaremos
“mentindo contra a verdade” (v. 14). Pode ter certeza, quando há
“confusão e toda espécie de coisas ruins”, tal atitude provém do
“Maligno” (v 15-16). Paulo diz também que o “ciúme” e a “contenda” são
sentimentos de homens que ainda não cresceram na fé e que seu
comportamento é o mesmo das pessoas do mundo (1 Co 3.3).
Irmãos, como apreciador
da teologia ortodoxa reformada - por ter alguns artigos escritos com
teor apologético - confesso que muitas das vezes sou tentando, após ter
feito algo com excelência, a me gloriar do que fiz comparando-me com os
irmãos de menos “instrução”. Preciso lutar contra minha natureza
pecaminosa! Que Deus tenha misericórdia da minha vida! Joshua Harris
eEric Stanford diz que “se você estiver segurando alguma coisa que, ao
cair, possa explodir e machucar outras pessoas, você a manejará com todo
cuidado” ². Para mim é muito mais fácil defender a fé – articular os
argumentos – fazer teologia e apologética – do quê dominar o meu
espírito (Pr 16.32) e guardar o meu coração (Pr 4.23). A verdadeira
sabedoria não destrói pessoas, mas edifica. É justamente isso que Tiago e
Paulo através do Espírito Santo nos ensinam. Uma sabedoria que brota do
“novo nascimento”, da água e do Espírito, e não somente da mente. Como
disse Jonathan Edwards: “precisamos ter luz na mente e fogo no coração”.
Creio ser este o maior desafio: “produzir” os frutos e receber os dons
em humildade usando-os somente para a Glória de Deus.
Precisamos crescer em
“graça” junto do conhecimento. Se formos “ortodoxos na teologia”, mas os
atributos [abaixo] listados por Tiago não tiver em nós, seremos os mais
hipócritas - ostentado uma sabedoria mundana “travestida de piedade”.
Seremos os piores hereges e por Deus seremos refutados:
“Mas a sabedoria que
vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável,
compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e
sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores”. – Tg 3. 17-18 NVI
Em temor, pense nisso!
Soli Deo Gloria!